- O que faz aqui? – perguntou (...).
- Estava com saudade – respondi a olhando – sem realmente ver - nos olhos. – Porque este espanto todo, querida? Não gosta de minha presença?
- Não disse que não gosto – respondeu seus lábios vermelhos.
- Mas não disse se gosta... – desafiei-a.
A sala continuava escura, via apenas seus olhos brilhantes e sua boca suculenta pedindo um beijo. Sabia que não deveria beijá-la, então quando a senti a se aproximar, recuei. Seus olhos me fitaram cruéis. O silêncio era realmente triste. Mas não devia falar, em nosso jogo cada um falava uma vez apenas. E agora era a vez dela. Vi sua boca abrir, mas antes que pudesse falar a fechou e deu um passo a frente. Estávamos muito perto um do outro, mas isso não era o problema. Se não nos tocássemos estaria ótimo.
- E não direi... Se, gosto, ou não. – agora ela quem me desafiara. E como foi sua vez de falar, agora era a minha, mas, nada vinha em minha mente. E quando digo nada, é realmente nada. Ela estava vazia, serena. Zen. Resolvi então mudar as regras do jogo. Nada diria, até que ela dissesse algo. Limitei-me a olhá-la de um modo inocente. Ela levantou um canto de sua boca e de um modo estranho – e desafiador, obviamente - sorriu como se tivesse entendido meu jogo.
- Jogo do mudo – disse ela. – Neste joguinho sabe o que ganha?
- Não seria quem? – respondi aproximando-me mais.
- Sabe o que ganha? – repetiu. “O que ganha? Minha querida?” sabia que não precisava verbalizar as palavras para conversar com ela, então simplesmente pensei. – O corpo. – ao dizer isso colocou um de meus dedos em sua boca e pressionou-o contra seus dentes enquanto o mordiscava de vagar. Esperei até uma brecha de sua força para puxar minha mão de volta.
- O que foi? – perguntou ela. – Tem tanto medo de mim assim?
- Talvez – sorri. – Mas...
- “Talvez” – sorriu de um modo infantil e de repente o vermelho de sua boca desbotou, um cinza escuro sem cor e sem brilho tomou conta de seus saborosos lábios. Recuei.
- O-o q.que..? – perguntei – na verdade não sei bem se falei ou pensei – com medo. A olhava assustado, “o que estava acontecendo com seus olhos?” – pensei me esquecendo completamente de que ela podia escutar.
- Com meus olhos? – sorriu ela mostrando seus dentes brilhantes, colocou a mão em um de seus bolsos e puxou um espelho. – Que legal, estão cinzas e opacos – falou cínica. Recuei mais. – O que houve? Esta com medo de mim? – a (...) esticou seus braços para de encontro com o meu, fiquei paralisado com seu toque quente. Fechei meus olhos, e então comecei a sentir algum pó caindo em meus pés, abri meus olhos e vi (...).
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