a brincadeira acabou, mas ainda tem texto para se perderem..

domingo, 9 de maio de 2010

Capitulo Primeiro

            Foi meu primeiro sonho perdido, mas depois deste nenhum outro valeu a pena. Todos infantis, nenhum se igualava a minha sinfonia quieta, calada. Muda pelos suspiros de dor. Luto em preto, e mulho90eres de branco. Meus pulsos amarrados diante da platéia, todos quietos, calados. Mudos pelo susto, talvez pena de um jovem pianista... Quem sabe alguns mais preocupados em receber seu dinheiro de volta.
     O mais importante não são os pensamentos nulos de quem via o piano quieto, calado. Mudo em meus gritos de dor. E sim, os pensamentos calados, quietos. Mudos da sinfonia.
     Meus Pulsos ardiam de dor, e podia jurar que via desenhos pautados escorrendo de minhas veias, ao invés de sangue.
     Chorei.
      Não de dor, nada doía, estava desmaiado. Morto em espírito. Mas consciente o bastante para chorar, e sentir o vazio do sonho perdido entrar pelas veias abertas que jorravam notas pautadas liquidas.
ზზზზ
     Todos olhavam perturbados, mas ninguém chorava. O espanto fora maior do que qualquer sentimento momentâneo. Todos observavam meus pulsos chorantes mancharem o piano que continuava quieto, mudo. Sofrendo calado.
ზზზზ
     De repente alguém grita perto de meu corpo, mas eu não escutei. Confusão, muitas pessoas.
     Estava morto, poeticamente morto
     - Socorro! Alguém!
     - Ligue para a policia! Uma ambulância!
     Minha irmã, com os olhos mais negros que o coração de meu assassino, manchava seu rosto de preto com suas lagrimas.
     - Ana! – grita minha mãe ao vê-la chorando agachada. Recua ao vê-la em cima de meu corpo morto. – Não! Isso. Não! – corre na direção contraria a mim.
ზზზზ
     Silêncio total. As cortinas se fecham. Fim do espetáculo! E como disse inicialmente, fim de todos os meus sonhos, nenhum deles agora importa. Fim do espetáculo, as cortinas de sangue a gora estão fechadas – para sempre, para mim.
     Alguém no meio da platéia grita, quebrando o total e absoluto silêncio que havia na sala. Mas antes que alguém pudesse sair, vários policiais cercaram o teatro.
     - Ninguém entra ninguém sai! – berrou um policial negro. – Todos sentados! – eles se voltaram mudos.
ზზზზ
     Meu corpo rasgado, continuava sem vida, sem sonhos e sem a única coisa que me permitia sonhar com esperança.
     - Olhe! Venham, venham! – alguém desesperado, fala espantado do camarim.
     Todos correm em direção a voz; minha irmã pareceu não ouvir, ficou comigo, ou melhor, com meu corpo. Fechou seus olhos e então começou a cantarolar baixinho minha primeira sinfonia: “Com se vivesse” – irônico.
     Chorei, estava morto, mas chorei, meus olhos se encheram de sangue, e chorei vendo as notas escurecerem minha visão.
     Minha irmã de doze anos fora mais forte que minha mãe.
     - Encontramos uma carta! – disse alguém que saíra do banheiro. – Ele se enforcou. E embaixo de seu corpo estava está carta, que estava com um bilhete em cima, dizendo que a carta era para ser lida, a primeira vez, pela Ana – ele olhou em volta procurando alguma manifestação de quem seria a “Ana Beatriz”, ninguém. – Na frente de todos no teatro.
     - Quem seria a “Ana Batriz”? – perguntou outra pessoa.
     Ana, levantou a cabeça com os olhos úmidos de ódio, e disse:
     - Prazer, irmã do morto – sua voz foi dura, e sarcástica. Mesmo não vivo me assustei ao imaginar que uma garotinha de doze anos poderia ter tanta “firmeza” assim.
ზზზზ
     As cortinas se abrem novamente, todos olham sem entender. Ana Beatriz afasta seus longos cabelos do rosto e para de olhar o piano manchado. Seu coração batia forte, mais forte do que o meu ao sentir o rasgo da faca em meus pulsos; talvez porque ela estivesse viva. E eu estava vivendo a morte,o coração quase parado. Ela estava quieta, calada. Muda em palavras.
     E chorava em silencio.
     Abriu a carta, o barulho do papel sendo rasgado pareceu enlouquecer a todos. Ansiedade. Leu a primeira palavra em voz baixa e começou:
     - Um pianista não sorri, eu sorria de mais. Um pianista escreve e sente, fala e não ouve, eu ouvi. Quem toca sofre e vive da infelicidade, meu riso me dominava- Enfim parou. Seus olhos pretos estavam cinza, e as lágrimas dominaram seu rosto. Piscou e quando voltou a abrir seus olhos, começou a cantarolar minha primeira sinfonia – irônico.
     E chorava.
     O publico olhava molhado, as mulheres a manchar e os homens a fingir.
     - As de branco – recomeçou Ana Bia ao terminar de cantarolar -, são as lagrimas, cristalinas e duras, elas choram e mancham de preto o rosto. Os de preto, o orgulho.

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